segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pessach ou Peissach?

"Quando eu era pequeno pensava que Pessach e Peissach eram duas festas diferentes que coincidiam no tempo: enquanto na escola se festejava Pessach, na minha casa se festejava Peissach.

Se no colégio público eu chegasse a dizer "culo" (em espanhol), a professora ficava muito brava. Mas no Seder, todos dizíamos "culó" ou "culanu" e não acontecia nada.

São duas palavras que fazem parte das 4 perguntas tradicionais de Pessach.

Um tio que veio dos Estados Unidos, falava dos "matze balls".

Eu pensei que se referia a um esporte, e que ele pronunciava mal o "baseball" ou "basketball".

Anos depois soube que ele se referia aos "kneidaleh".

Quando eu via a minha bobe cozinhando para Pessach, me perguntava se assim o fazia para recordar como trabalhavam os judeus quando eram escravos no Egito.

O tio "Minha loja" às vezes chegava tarde ao Seider porque bem na hora de fechar, chegaram clientes na "minha loja".

E o tio Efsher (quer dizer Talvez) lhe dizia: "Se fosse por ti, ainda estaríamos no Egito, e Moishe Rabeinu estaria te pedindo para te apressares com este último cliente".

Ao tio Ieisef chamavamos de Eliahu Hanavi, porque quando ninguém olhava, bebia várias taças de vinho.

A bobe, a cada coisa que servia para alguém, perguntava "Gostaste...? Gostaste...?" Eu e meus primos, imaginávamos que esta era uma tradição de Pessach, e que Moisés cada vez que os judeus comiam maná, lhes perguntava "Gostaram...? Gostaram...?".

Acreditávamos que "as quatro perguntas" as faziam ela, e eram: "Gostaram do choledetz? Gostaram do gefilte fish? Gostaram da sopa com kneidelach? Gostaram do leikach?"

Tia Rochele era bem adiantada para sua época. Ano após ano, a cada seder trazia um novo namorado.  O tio Shmulik comentou que, se tivesse dez sedarim, Rochele teria tido um minian para ela...
 

O zeide a bobe completaram cinqüenta e três anos de casados. Entre eles nunca houve um sim ou um não, sempre era uma pergunta que ia e outra que voltava.

-"... Onde está o matze meil?".
-"... e porque eu tenho de saber?"
-"... e quem queres que o saiba, Moche Rabeinu?"
-"... sei , não és tu quem quer saber?"
-"... e se em vez de me criticar fosses comprar mais um pacote?".
-"... a esta hora?".
-"... Nu, a que horas seria?"
-"... Não podias ter-me pedido mais cedo?".
-"... e como querias que te pedisse mais cedo se faltou agora?"
E assim passavam horas e horas!

No seder havia muitíssimos tios. Havia meus tios, tios de meus pais, tios da família em geral, e tios que não se sabia de quem em particular.
Uma vez que alguém era incluído na agenda familiar na categoria "tio", não perdia o titulo nunca mais.

Um dos momentos mais esperados e tradicionais do seder era o das apostas de qual dos tios: Shmulik, Gregório, ou Yankl, seria o primeiro a manchar a camisa com chreinQuando um dos três se manchava, as mulheres dos dois outros, com orgulho pegavam um guardanapo prendiam nos pescoços de seus maridos. Nós pensávamos que esta era outra maneira de relembrar a escravidão no Egito.

Todos sabiam que a importância destas festas reside em transmitir. Porém, era impossível que a bobe "transmitisse" a receita: no máximo que se conseguia era que dissesse: "pus um pouco disto, uma pitada daquilo, peguei um punhado, etc."

A bobe servia leikach  a todos, e depois perguntava a cada um: "posso cortar mais um pedacinho?" A nós, os meninos, esta pergunta assustava um pouco...

A bobe calculava a quantidade de comida para mais ou menos a quantidade de judeus que saíram do Egito. Quando ninguém agüentava mais, ela aparecia com mais dois pratos. Não podia correr o risco de alguém sair com fome...

Uma vez, com meus primos jogamos uma no decote da tia "não me queixo", e todos ficaram muito bravos conosco, mesmo que disséssemos que estávamos tentando recordar as dez pragas do Egito.

Uma vez, enquanto meu primo perguntava "O que diferencia esta noite de todas as outras noites?" escutou-se tia Sarale gritar para o marido, o tio Shloime (aquele que suava): "Todas as noites é o mesmo, todas as noites é o mesmo!" Para eles, esta noite não se diferenciava de todas as outras noites.

Antes, nós as crianças, insistíamos em perguntar:

-"Porque que nesta noite comemos matzá, se nas outras noites comemos pão?"

Em vez disto, as crianças de hoje perguntam:
-"... e isto que a Martinha e seu noivo estão fazendo escondidos no banheiro, também é uma tradição de Pessach, vovô?".

Não que fôssemos bobos... Éramos mais ingênuos!"
FELIZ PESSACH a todos!
(Recebi do Moshe, por e.mail!)

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